terça-feira, 26 de abril de 2022

Cada dia de outono

Cada dia de outono

Weverton Duarte Araújo

 

Cinzento inicia ruidoso

Assim percebo chegar

Do nada, insiste em voltar

Agourento dia teimoso

 

Diz que não vai demorar

Inocente, outra vez acredito

Até me cansar do maldito

 

Demora sim, com calor desditoso

E é sem-fim, sem hora de acabar

 

Outra vez não, senão vira moda

Um dia assim tão sem prazer 

Tudo fica ruim ter que fazer

O menor movimento incomoda

No calor infernal de onde habito

Ou me mudo daqui, ou louco vou ficar.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Mil vidas

Mil vidas

 

Se mil vidas eu tivesse

mil vezes sei que erraria

se tudo de novo fizesse

outra vida eu viveria

e se tudo aqui se acabasse

nenhuma graça teria

se em amor acreditasse

muito menos sofreria

 

Mil vezes sei que errei

outras mil queria errar

de tudo que torto fiz

mesmo tentando acertar

em momento algum pensei

que rumo iria tomar

só queria ser feliz

ser amado e até amar

 

Mas por mais que andei querendo

mais que mais amar querer

ainda mais andei amando

mais amei que quis amar

pois que amando andei sofrendo

cansa andar, custa sorrir

 

Então mil vidas é pouco

para mim que vivo assim

que ando amando como louco

sem pensar que isso tem fim

que grito até ficar rouco

e ninguém olha pra mim

 

E ninguém ouve meu grito

meu sussurro no final

passo a ser um ser maldito

por tanto amar, me dei mal.

Suscinto

Suscinto

 

 

Mal sinto o mar

Me sinto mal

Me sento ao sol

 

Meu santo amor

Misto de sal

Meço o mistral

 

Bem sei que amar

Sem dor não há

Ser rei sem par

Sem cor será

 

Seu canto, flor

Seu som tão bom

Por onde for

Será meu tom.

Tão nua pela rua.

Tão nua pela rua.


Por que anda assim, tão nua?

Sem pudor, sem se poupar.

Pensa ser irmã da lua

Que se agrada em se mostrar?

 

Se esquece que a natureza

É cruel em seu mister?

Vem o tempo, a vida vai

Nem tudo se leva à mesa

Pois quando a hora vier

Murcha a flor, o fruto cai.

 

Assim, ouça aqui, querida

É seguro entrar na dança

Aproveite bem a vida

Mas não me faça lambança

Sendo já mulher crescida

Agindo feito criança.

DVD

DVD


Duvidar é dom divino

É dádiva da vida

Douta voz, desatino

Da verdade dividida

 

Duvidar é dever do vivo

É dom que a diva dá

Dizer verdade é doído

Duvido, vivo a divagar.

 

Desvendar a divindade

Devolver, dar a volta

Dividir com o devedor

Dói de ver ser vendido.

 

É dever do devoto

É de vidro e divide

Decide a vida no voto

Devolve.  Não dá, não vende.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Me calo.

Queria ter hoje as palavras adequadas,
Mas só tenho as palavras.
Queria saber o que dizer com maestria,
Mas me fogem as palavras.
Seria bom saber ao certo o que quero dizer
Mas não são minhas as palavras.

Pois as palavras são crias da fala
E não se deixam nunca ser domadas
Se o homem teme, treme e se cala
É que  elas se negaram ser faladas

Mas se rompemos loucos seu desejo
De se manterem quietas, bem guardadas
Pagamos caro no primeiro ensejo
Palavras não suportam ser violadas

Assim se calam os poetas tristes
Os homens loucos e apaixonados
Pois se a palavra certa não existe
Mais ganha aquele que ficar calado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Ilusão



 Ilusão


Extraído do livro CIDADE MULHER de Weverton Duarte Araújo.

 

Olhei através do vidro que nos separava...

e a sua cor me fez sentir alguma coisa.

Um aperto que começou no umbigo,

subindo até me fazer salivar.



Meus olhos quase a saltar das órbitas,

seu cheiro então, tentei adivinhar...

imaginei tirar o que lhe cobria,

tocar com os lábios sua pele fria...

doce, gostosa, suave e macia.



Alguém passou, fiquei meio sem jeito...

de estar olhando assim, fiquei sem graça.

Mas, quando o corpo quer, acaba o medo.

Pensei: vai ser agora, assim tão cedo?


Vai sim !!! Abri o vidro, ele me esperava.

E foi tão bom, pena que logo acaba...

e bem no fim, em outro já pensava.